O pesadelo continua!
Olá!! Cá estou eu, novamente para continuar este conto da vida real.
Fica mais difícil, nesta época, vir escrever e mostrar um pouquinho do meu presente e principalmente do meu passado, pois voltámos às rotinas normais. Com determinação, vou conseguir dar cumprimento à minha promessa, ao meu propósito, quando decidi criar este Blog. Daqui em diante apenas deverei escrever uma vez por mês.
Há quem se feche em silêncios e tente ultrapassar os seus fantasmas, eu tenho mesmo que me abrir e contar as minhas vivências, para Me permitir seguir, serenamente, o meu caminho. E permito ainda que os meus saibam a sua história, contada da minha perspectiva. Penso que conhecer a história dos que os antecedem, contribuirá para que possam escolher não repetir as mesmas atitudes.
Pensei que ia concluir esta etapa de "regresso ao passado", este verão, e deixaria este testemunho, este conto, terminado durante as férias. Queria deixar este marco num ano, que de futuro vão descobrir, é um ano onde a perversidade e a manipulação da realidade se manifestaram a um nível intolerável, num escancarar de traços de personalidade onde não se vislumbram quaisquer valores éticos ou morais, unicamente visando a todo o custo a busca por uma vantagem patrimonial. Estou a escrever muito, mais que o que era suposto. De todo em todo, como comecei cedo, e para o fim a que se destina, o tempo joga a meu favor.
Bem , vou apenas mostrar o que fui fazendo até ao fim de setembro e no próximo post registarei o que fiz no mês de outubro: quanto a filmes e livros, nada a acrescentar. Com duas crianças em idade escolar, ter tempo para estes "luxos" (ler e ver filmes) torna-se uma tarefa árdua. Entre os jogos no CDC (agora são dois jogos por fim-de-semana), ajudar nos trabalhos de casa, mais o tratamento de roupas, (parece que triplicam no fim-de-semana) o tempo não chega para nada,. O fim-de semana passa a voar.
No último dia deste mês de setembro recebi uma notícia muito triste: depois de dois meses de luta pela vida, internada no Hospital de Braga, (onde a pude visitar, e felizmente para mim, falou comigo, tivemos algumas pequenas conversas, ainda, mesmo ela estando muito debilitada) perdi a minha Tia. A única tia com laços de consanguinidade do lado do meu pai (irmã dele). Não podia deixar de a lembrar aqui, a minha Ferreirinha! Foi figura muito importante e presente na minha infância, e adolescência também, que muito doce de boca me trouxe e aos meus manos (os sugus e as pastilhas elásticas), com quem demos imensos passeios e a quem alegrávamos esses passeios com as nossas cantorias. Será sempre com um sorriso que a recordarei💔.
De regresso à minha viagem ao passado, já em idade adulta, recomeço agora "o conto" em meados de fevereiro de 2010.
Não estava de todo fácil ultrapassar o que nos tinha acontecido, embora o médico nas urgências ( Dr. Saleiro, nunca vou esquecer a frieza com que me falou ) me tenha dito que era normal. Dizia que nos dias que correm acontecem abortamentos com muita frequência, principalmente na primeira gravidez. Disse-me ainda que decorridos três meses podia novamente tentar engravidar. Eu ouvia, mas não conseguia transformar a mensagem em algo positivo, havia qualquer coisa que me dizia que isto era o princípio de uma jornada dolorosa. Estava emocionalmente marcada por aquelas palavras carregadas por más energias, que esta pessoa sobre quem vos venho falando, me havia dito, naquela malfadada sexta-feira.
Incomodava-me ainda, a reação do Ricardo. Eu percebia que a ligação dele com o acontecimento tinha que ser diferente, desde logo porque não foi física e visível como a minha, mas não estava a lidar bem com a forma leve com que ele conseguiu resolver aquela perda, e chocou-me mesmo ele ter continuado com o seu hobby de domingo de manhã (futebol), e deixar-me sozinha.
Para além desse incómodo, estava ainda a ser mais difícil encarar e ter que conviver com alguém que julgo me ter desejado mal, ou se não desejou mal, bem também não desejou. A sua mesquinhez e preocupação com questões de somenos, com o que esta nova fase podia impactar na sua vida, (tudo o que "cheirar" a dar trabalho, é um problema para esta pessoa) tinha-se sobreposto a qualquer sentimento de felicidade pela chegada de um novo ser à família. Não fosse estar a colocar o Ricardo numa situação chata, ao dizer-lhe que não ia mais participar nos almoços de domingo, era isso que teria feito, pois não queria estar perto desta pessoa. Mas por ele continuei a ir. Sentia-me "trespassada" "observada até às entranhas" por aquele olhar invasor e que nada de bom me fazia sentir. Era por demais incomodo e até me intimidava.
A custo lá me fui recompondo, tentando ter na mente que três meses passavam rápido e que depois tudo terminaria em bem, mas eu tinha outro feeling, uma voz interior que contrariava aquilo que eu me esforçava por pensar. Certo é que no início do mês de junho, dia 1, dia da criança, vou a consulta de ginecologia com a minha médica na altura Dra. Teresa Coutinho, já com resultado positivo de um teste de gravidez de farmácia. E confirmamos: estava novamente grávida e estava tudo direitinho. Se na gravidez anterior a data prevista do parto era setembro de 2010, agora a data prevista era fevereiro de 2011( na primeira gravidez o bebé nasceria no mês do avô paterno, na segunda nasceria no mesmo mês do pai).
Mas eu estava receosa, como já expliquei, e contei a pouquíssima gente. Da parte do Ricardo não contámos a ninguém. Nesse mesmo dia 1, após a consulta de ginecologia dei um grande trambolhão ao pé do Mcdonald's da avenida Central, e isso só alimentou mais ainda a minha ansiedade e o temor que também desta vez algo não fosse estar bem.
O tempo passou e a 02 de agosto desse ano de 2010 vamos fazer a ecografia das 12 semanas. Há já alguns dias que não sentia enjoos, já conseguia comer normalmente e não tinha qualquer tensão ou incómodo nos peitos, mas nem tinha sequer refletido sobre isso. Quando a médica que faz a ecografia começa por dizer que o bebé não tem batimentos cardíacos, e que o seu tamanho não correspondia à idade gestacional que eu referia, ou seja, eu referia 12 semanas, mas o embrião apenas tinha o tamanho correspondente a 9 semanas e 2 dias, caiu-me tudo!!
Pois a minha angústia foi tal que se pudesse gritar, eu teria gritado até ficar sem voz, se pudesse correr e fugir era isso que teria feito, fugir de toda a gente, correr até não ter mais pernas para correr, e me deixasse cair fosse onde fosse. Mas não gritei nem corri, saí do centro de imagem médica com carta para internamento no Hospital de Braga. Fui observada apenas no dia seguinte por indicação da minha médica, pois àquela hora ( perto das 18h00) mesmo que fosse para o hospital, em princípio não me iriam fazer nada, só mesmo no dia seguinte. E de facto o embrião tinha morrido, tinha deixado de se desenvolver há algumas semanas, mas o útero não o tinha expulsado - tivemos no dia seguinte a confirmação, pelo que me deram uma medicação para que fosse expulso. Como isso não aconteceu totalmente, tive que ser submetida a uma intervenção cirúrgica com anestesia geral, chamada de curetagem ( mais conhecida como raspagem). Antes de ir para o bloco ainda respondi a um questionário de avaliação psicológica e lá voltaram a dizer-me que nos dias que correm é normal, ou frequente, e eu completamente desinteressada e alheada, não queria ouvir nada daquilo, passei a ouvir "BLA BLA BLA WHISKAS SAQUETAS".
Foi a segunda vez que fui parar a um bloco operatório, da primeira vez em 2004 para ser operada ao apêndice. Se da primeira vez ia cheia de medo, desconfiada de tudo, numa espécie de negação, e a pensar nos riscos de uma cirurgia, desta vez queria lá bem saber do que podia acontecer, se ficasse na mesa de operações ficava, pelo menos adormecia e não tinha mais que passar por aquela tormenta. Estava completamente transtornada. Quando cheguei ao quarto vinda do bloco, tinha o Ricardo e a minha irmã à espera, e só me lembro de querer sair da maca para fora, queria vestir-me e vir embora. Mas não! Só tive alta dia 5. Tive que ficar ali com mais senhoras que saiam do quarto para parir e que voltavam com os seus bebés, bebés que choravam durante a noite. Uma tortura emocional que me angustiava ainda mais. Ao receber alta hospitalar, deram-me baixa por uma semana, mas desta vez fui eu que escolhi ir trabalhar. Enquanto estivesse com a cabeça ocupada nos problemas do trabalho, menos tempo tinha para pensar na minha desgraçada sorte.
Nesta altura estava também a frequentar o Mestrado em Direito Fiscal na U.M. e como disse anteriormente, foi muito difícil conseguir acabar a parte curricular, com todos estes acontecimentos à minha volta. Não entrava nada nesta cabeça. Não trabalhava a sexta-feira de tarde, pois o horário do pessoal de escritório era só de 35 horas semanais, e como precisava do tempo (se antes trabalhava a sexta-feira o dia todo, agora não, embora conhecesse desde sempre os meus direitos), nesta altura usei esta prerrogativa para poder ir às aulas ( eram sexta de tarde e sábado de manhã). Pois eu nem ia trabalhar, nem ia às aulas! Vinha almoçar em casa e ficava enterrada no sofá até o Ricardo chegar. Aos sábados de manhã também faltava imensas vezes, não me apetecia sair da cama. As disciplinas do segundo semestre eram as que menos me interessavam, portanto, umas coisas e outras fizeram que fosse um tormento este segundo semestre. Mas acabei o primeiro ano, consegui passar a tudo até com notas boas, mas com isto já não me inscrevi no segundo ano, que seria para fazer a tese.
De volta exclusivamente para o trabalho, agarrei-me a ele como se fosse o pedaço de madeira que me mantinha à tona, naquele rio de tristeza onde mergulhei.
Convicta que não era nada normal, dois abortamento seguidinhos, marco logo consulta em agosto com a Dra. Teresa para que me prescreva mais exames além dos tidos como "normais ", e ao Ricardo também. Queria perceber se havia uma explicação científica para o que estava a acontecer. Ela refuta, tenta demover-me dessa ideia, diz que é comum, mas por insistência minha e tratando-se de exames particulares, e sendo ela médica particular, lá acaba por aceder.
Os exames sucedem-se, os resultados deles também, estava tudo OK. Apenas um estudo genético feito num laboratório no Porto estava a demorar mais um pouco. Até que um dia recebo uma chamada do Prof. Dr. Sérgio Castedo a informar que já têm os resultados. Temos que ir ao Porto conhecê-los pois diz ele que precisa falar connosco pessoalmente e explicar esses mesmos resultados. Tenho que ser honesta, nunca pensei que o problema estivesse comigo.
Vamos ao Porto, ali por finais de setembro de 2010, a data do relatório é mesmo do dia 30, e fico sem chão ao perceber que os abortamentos de repetição poderão estar relacionados com uma Translocação Robertsoniana equilibrada, descoberta no meu cariótipo de linfócitos. Esta translocação por ser equilibrada, em mim, não tem qualquer impacto, não há deficiência ou deformação. Somente na procriação existem problemas, pois origina muito erros por falta de material genético, falta essa que é tão grave, que as malformações nos embriões são incompatíveis com a vida, provocando abortamentos logo nas primeiras semanas de gestação. Por se tratar de uma translocação nos cromossomas 14 e 21, engravidando e as gravidezes evoluindo, teria sempre que fazer amniocentese pois a probabilidade de ter um bebé com trissomia 21 era também muito aumentada. Começo aqui a perceber que de facto não íamos ter facilidades para conseguir ser pais e a recear o que aquela forte sensação que algo mau está para acontecer me quereria dizer.
Vou a consulta no posto médico e explico a minha situação ao médico de família, que um pouco relutante, lá me encaminha para o Hospital de São João, para consultas da especialidade.
Não sei quando vamos à consulta a primeira vez no HSJ, mas encontro os primeiros recibos de taxas moderadoras com data de março de 2011. Sei que todas as consultas que fui relacionadas com este tratamento, quer no HSJ, quer na Clínica do Dr. Alberto Barros, quer no Zigos em Espanha, calharam sempre em dias nublados e chuvosos, por isso, lembro-me desta fase como uma fase muito cinzenta.
Sei que me chega ao conhecimento que após a primeira consulta, o tratamento demora cerca de um ano, mas que pode demorar mais. Então, pouco disposta a esperar esse tempo, não tenho bem certeza, se o Dr. Castedo ou mesmo a Dra. Teresa Coutinho, falaram-me numa clínica na Boavista (Porto) e numa outra Clínica em Santiago de Compostela, privadas, que realizam o procedimento de fertilização medicamente assistida indicado para o nosso caso: Injecção Intracitoplasmática (ISCI), e acho nesta fase, que estas instituições podem ser a solução.
Muito decidida a não esperar tanto tempo, lá metemos os dois pés ao caminho, e vamos em novembro de 2010 a Santiago de Compostela. O que de lá trouxemos não foi nada animador, o tratamento em questão custava muito perto de 10 000,00€, e não havia garantias nenhumas que resultasse. Ainda no mesmo mês, uns 4 dias depois temos consulta na Clínica de Genética Médica do Prof. Dr. Alberto Barros, onde este nos diz exatamente a mesma coisa. Refere o preço por tratamento, que ainda é mais caro que em Espanha, e vai acrescentando que eu posso sempre tentar engravidar naturalmente, mas que muito provavelmente a Natureza ia errar mais vezes do que os médicos. Contudo, não podiam dar garantias que um tratamento fosse bem sucedido, podia precisar de um dois, etc. No fundo esta fertilização in vitro era precedida de um "exame" onde se ia perceber se o embrião era saudável antes de o transferir para o útero, daí ser um tratamento mais caro, mas que evitaria gravidezes que terminassem em aborto espontâneo nas primeiras semanas.
Saímos desanimados, com tanta complexidade, com custos tão altos, poucas certezas e nenhumas garantias. Tivemos que nos render, e esperar pela chamada do HSJ. E a espera foi grande.
E enquanto esperamos, inscrevo-me agora numa Pós-Graduação no Porto, na Universidade Fernando Pessoa,(comecei em Ponte de Lima mas não me adaptei) relativa ao SNC, o novo normativo da contabilidade. Teria que dominar este normativo para continuar a exercer a minha profissão, e nesta altura eu não tinha capacidade para estudar sozinha. Mais uma dor de cabeça para terminar porque estava novamente emocionalmente em baixo pois tinha engravidado novamente, uma gravidez "natural" e mais uma vez não correu bem.
Ainda há dias perguntei ao Ricardo se ele se lembra porque aconteceu, e claro, como sempre, lembra-se de menos pormenores que eu, não sabe bem. Eu também não me recordo porque aconteceu. Não tenho ideia nenhuma de ter sido intencional. Mesmo estando cansados de estar à espera, não temos ideia de ter sido por decisão nossa. Penso que terá acontecido por eu estar constantemente a esquecer-me de tomar o comprimidinho rosa, mas já não estou bem certa.
Certo é que em julho de 2011 sou novamente internada por gestação desvitalizada com amenorreia de 10 semanas e 3 dias. Não me lembro de nada desta gravidez. Não me lembro de ir a consulta com a Dra. Teresa, não me lembro de fazer teste de gravidez, não me lembro de fazer ecografia, não sei como fui parar ao Hospital. Só sei que desta vez já fui internada no Hospital novo em Gualtar, e fiquei num quarto sozinha sem outras grávidas e bebés a chorar durante a noite. Sei que pedi ao Ricardo para me trazer o portátil e que fui trabalhando remotamente. Tinha que dar continuidade ao trabalho financeiro que desempenhava e que tinham uma exigência diária, dada a situação débil que a empresa onde trabalhava apresentava. Lembro-me de estar com os meus pais no dia anterior ao internamento e dizer-lhes que ia ser novamente internada porque o bebé estava já desvitalizado. O bebé já não tinha batimentos cardíacos, e recordo que a minha mãe estava com dificuldade em assimilar, entrou mesmo em negação e achou que não era nada, que se enganaram. Disto lembro-me!
E assim lá sou novamente submetida a um tratamento com medicação que não resulta e vou novamente para o bloco, sujeita a anestesia geral, fazer nova raspagem uterina. Volta a ter baixa de uma semana , mas vou trabalhar mal tenho alto no Hospital. Não queria ficar em casa. Não queria que esta pessoa, para mim a que invocou todos estes males que me estavam a acontecer, me visse na mó de baixo. Eu acho mesmo que ela gostava de me observar em sofrimento, e por isso evitava ao máximo estar na sua presença.
Mais uma vez meto a cabeça no trabalho para não pensar em mais nada, e nesse ano decidimos ir novamente de férias (tirar a nossa semaninha, como vinha sendo habitual desde que casamos, única semana em que não nos aborrecíamos um com o outro por causa dos cozinhados e tarefas domésticas). Em 2010 não fomos, mas neste ano estávamos mesmo a precisar de espairecer, e lá fomos para Palma de Maiorca. Encontramos por lá outro casalito português e conseguimos, à conta deles, passar umas férias com umas valentes barrigadas de riso.
Não sei se por esta altura, se um pouco antes, ou um pouco depois, para acabar com os atritos e zangas relacionados com as arrumações e outros trabalhos domésticos, para termos um bocadinho de tempo para os trabalhos no quintal e jardim, (sempre gostei de mexer na terrar e no fundo era uma terapia) contratamos um serviço de limpeza quinzenal que mantivemos até o Martim nascer. Só voltaria a ter serviços de limpeza em 2017 quando estava a trabalhar em Guimarães pela segunda vez. Bem, as zangas de facto diminuíram, mas os trabalhos no jardim e quintal é que tardaram a ser feitos por nós.
Entretanto muitas coisas aconteciam à minha volta, poucas pessoas sabiam pela minha boca o que se passava, os meus pais e irmãos sabiam, algumas pessoas no trabalho sabiam, outras lá acabavam por saber pelo dito " olha, mas não contes nada" . E com o "não contes nada" já muita gente ia sabendo. Ao Ricardo tinha pedido para não contar nada à família dele. Penso que respeitou. Queria ter direito a sofrer e a passar por aquela tempestade, com os meus, com os que gostam e cuidam de mim.
A família dele saberia um dia o que se passava connosco quando tivéssemos uma gravidez em que tudo corresse bem, ou quando resignados, tivéssemos que dizer que não íamos poder ter filhos. Nunca deixamos de ir almoçar aos domingos "lá acima". Mesmo no Natal e Ano Novo, durante este período, fizemos como sempre tínhamos feito, um ano numa família, outro ano noutra (também sobre estas Festas fui eu que, logo no ano que casamos, disse que o Natal era nos meus pais nesse ano, por isso Ano Novo se quisessem seria na família do Ricardo e no ano seguinte o contrário. Assim foi durante uns tempos) mas era um "frete" que estava a fazer desde 2010. Ter que estar na presença daquela pessoa que não me queria bem, que apenas fingia que gostava de mim... Só o fiz para não aborrecer o Ricardo, e não o estar a privar de estar com as pessoas "dele". Então, quando esta pessoa começava a implicar que não lhes restituíamos os tupperwares que trazíamos com as sobras do almoço de domingo... Uiii, dava logo vontade de dizer que não íamos lá mais!
Do que esta pessoa não sabia é que a maior parte das vezes o perú assado (é a ementa que me lembro mais, perna de perú assada) chegava à sexta-feira seguinte e ia para o lixo. Porquê? Eu almoçava nos meus pais, comidinha fresca ao almoço, o menino almoçava no café, não queria comer as sobras. Para jantar, o perú fazia-se pouco para os dois, e ele nunca lhe apetecia. E era isto!!! Ainda tinha que ouvir ralhete por causa dos tupperwares? (se fossem mesmo da marca até percebia - caros, ficar sem eles era complicado - agora eram umas caixas quaisquer de oferta nos supermercados, era preciso tanto drama? ) É que eu estava mesmo sem paciência para aquilo!!!Já não tinha vontade de lá ir almoçar, trazia contrariada as sobras (porque o destino final era o que se sabe) ainda tinha que aturar o esquecimento dos tupperwares???!!! O Ricardo para chatear, então é que não vinha cá abaixo buscá-los... Enfim!!
A vida foi amarga, dura nesta época. Além das pessoas que já referi acima, algumas outras pessoas sabiam o que se passava comigo, uma delas, a minha cabeleireira, outra, uma sra. que trabalhava no BPI - Centro de Empresas da Arcada - Dra. Emília Branco. Com elas também me ia abrindo e lamentando. Elas reconfortavam-me, iam contando vivências de outras senhoras, outros casos que conheciam e dando-me esperança, quer por esses testemunhos, quer por outras "sensibilidades e saberes" A minha cabeleireira à época, aconselhava-se com uma "Mãe de Santo" que lançava os búzios. E quis ajudar-me, perguntando-lhe pela minha sorte. Eu, embora pouco crente, cética mesmo, ouvia e guardava, na esperança que o meu futuro pudesse vir a ser mais risonho. Recebia agora energias positivas de pessoas que me acarinhavam e me desejavam o melhor.
Na minha cabeça estava um grande "caldeirão" para onde eu deitava os ingredientes que iam surgindo nestas conversas, com estas e outras interlocutoras. Chegaram a dizer-me que eu abortava meninas - cientificamente nunca comprovei! Os búzios (não sei com base em que, se uma peça de roupa minha ou se através de uma foto) disseram à "Mãe de Santo" que eu que tentasse, pois ia conseguir ser mãe. A Dra. Emília contava-me que tinha uma amiga que, na altura em que teve os seus filhos (a Dra. Emília tinha idade para ser minha mãe) teve dois rapazes, mas queria ter uma menina. Ao "correr atrás da menina" teve, penso que me falou em quatro abortamentos, e acabou por desistir. Teve os dois meninos sem nenhum contratempo, e na corrida para a menina, corria sempre mal. Pois eu comecei a fazer um caldo com aquilo tudo.
Continuava embrenhada nos problemas financeiros da sociedade de ferragens onde trabalhava, sendo o trabalho o oxigénio que precisava para me manter, e não pensar nos problemas pessoais. Entre família e amigos ia saindo para jantares, para ver os jogos do Braga, em casa e fora (o Braga esteve quase, quase a ser campeão, nem nisso eu tive uma alegria), saídas à noite para beber uns copos e ficar anestesiada emocionalmente por uns dias. E foi assim durante uns meses: trabalho, futebol, "copas" e música para me ir segurando.
No trabalho, os dias sucediam-se iguais, todos os dias cheques a pagamento para os quais tinha que arranjar provisão. A política dos cheques pré-datadas imperava na empresa, muitas vezes um ou outro tinha mesmo que ficar por pagar. Perdia muito tempo com a parte financeira e dedicava menos do que devia a fazer a contabilidade.
Nesta altura famílias e empresas enfrentavam grandes problemas com a crise das dívidas soberanas e com Troika em Portugal. O desemprego era enorme, montes de famílias estavam a entregar a casa ao Banco, havia falta de trabalho na construção civil. Muitos problemas, por isso, tinha sempre a cabeça a mil. Além da empresa de ferragens ser afetada, os meus pais e irmão também estavam a passar por dificuldades com a falta de trabalho.
Almoçava nos meus pais desde 2008, altura em que vim trabalhar para Braga, nesta fase deixei de ir lá almoçar, (não sei que desculpa arranjei) pois mais uma boca para comer já fazia diferença. É que mesmo se quisesse levar alguma coisa ou dar algum dinheiro, era o cabo dos trabalhos. Por isso, decidi vir almoçar em casa, ou comer alguma coisa perto do trabalho.
E já estamos em 2012. No final de outubro contarei mais um pouco da minha história, vamos ver se chego a 2016. Até lá.
Vejam as restantes fotos do mês de setembro:
Estive com o Dinis a fazer uma deliciosas almondegas, enquanto o pai foi levar o mano ao treino.
Jogo do Dinis às 9h00 em Celeirós.
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